Kamala celebra apoio de Obama, mas teme 'reforço' de Biden na campanha (2024)

Nas próximas semanas, Joe Biden porá em prática uma campanha de esclarecimento sobre os “avanços econômicos” em seus quatro anos na Casa Branca. O presidente dos Estados Unidos deseja usar sua saída de cena política para, ao mesmo tempo, defender seu legado e ajudar a tirar uma das pedras do sapato da candidatura de Kamala Harris à sua sucessão. A um mês das eleições, com inflação, desemprego e taxa de juros em queda, o veterano político planeja múltiplas ações nas redes sociais e viagens aos estados mais decisivos no Colégio Eleitoral com o objetivo de diminuir a resistência de eleitores nostálgicos dos anos imediatamente antes da pandemia, quando Donald Trump comandava o país.

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Só faltou combinar com o quartel-general da vice-presidente, interessado em trabalhar ideias novas, como sua “economia da oportunidade”, a fim de imprimir digitais próprias em um dos temas mais espinhosos para a democrata na reta final da disputa, que segue sem favorito e com empate na média das pesquisas.

Enquanto celebrou o mergulho do ex-presidente Barack Obama na campanha, a partir da quinta-feira, em comício na Pensilvânia, a ser seguido por aparições nos estados de Wisconsin, Michigan, Geórgia, Carolina do Norte, Arizona e Nevada, a reação à investida de Biden foi recebida na campanha com olhos arregalados e muxoxos aborrecidos.

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O plano de Biden prevê discursos em endereços — entre eles, sedes de sindicatos e associações de produtores rurais e de moradores — onde o presidente pretende demonstrar como a “Bidenomics”, com investimento em infraestrutura e criação de empregos na economia verde, já fez e fará ainda mais diferença prática na vida dos eleitores.

O presidente passará por locais onde vivem e trabalham eleitores brancos, mais velhos, os trabalhadores de “colarinho azul”, estrato em que Kamala precisa avançar para vencer na Pensilvânia, Michigan e Wisconsin. Busca-se, aos 45 do segundo tempo, derrubar um dos paradoxos dos anos Biden: vendida para beneficiar os trabalhadores, sua política econômica é por eles rechaçada. O que pode custar a Kamala, também mostram as pesquisas, a Presidência.

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'Mais que o preço dos ovos'

Ao site Politico, de modo reservado, um conselheiro da Casa Branca afirmou que Biden falará nos eventos de “conquistas históricas, e não sobre o preço dos ovos”. A inflação, que chegou a 9% há dois anos e hoje está abaixo dos 3%, ainda é sentida por eleitores no fim do mês, quando não conseguem pagar o aluguel ou a hipoteca e comprar no supermercado como o faziam em 2019. Daí a repetição exitosa da pergunta de Trump em seus comícios, certo da resposta dos eleitores: “Ponham a mão no bolso e digam se têm mais dinheiro do que há quatro anos.” O ex-presidente, aliás, voltará hoje a Butler, na Pensilvânia, onde sofreu, em julho, tentativa de assassinato. Ao seu lado, no comício, terá o reforço o bilionário Elon Musk, dono do X e que anunciou seu apoio a Trump imediatamente após o atentado.

Às voltas com a guerra no Oriente Médio e a recuperação dos estados do sul afetados pelo furacão Helene, que causou mais de 150 mortes, Biden deseja persuadir eleitores em sua turnê “do que um dia será visto como enorme progresso econômico”, disse uma fonte da Casa Branca ao Politico, apesar do aumento do custo de vida, inevitável , argumentam governistas, para se recuperar o país após a “herança maldita” dos anos Trump.

Há, no entanto, desconfiança na campanha da vice com a iniciativa de Biden. Estrategistas destacam que, enquanto o presidente revisita sua agenda econômica, Kamala já colhe resultados de sua “economia da oportunidade”, especialmente com a proposta populista de controle de preços e punição “ao lucro abusivo”.

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Após a substituição na cabeça da chapa, o cenário melhorou para os democratas na economia. Em agosto, pesquisa da Universidade de Michigan para o Financial Times mostrou que, pela primeira vez, Trump aparecia atrás (42% a 41%) na resposta sobre em qual candidato o eleitor mais confia para ter a chave do Tesouro. Com Biden, o republicano vencia de lavada. A vice consolidou a vantagem na rodada seguinte, uma semana após o debate que travou com Trump na ABC: 44% a 42%.

Baixa aprovação

E pesquisa da American University divulgada ontem mostrou que, entre as mulheres, 46% apostam nela — contra 38% em Trump — para baixar o custo de vida. Mas a margem, ponderam cabeças coroadas da campanha, é estreita, e não há tempo para se recuperar de erros.

— Os avanços nos anos Biden não tiveram o reconhecimento devido, mas isso não será revertido agora. Os esforços para pavimentar seu legado são justos, mas não ajudam Kamala. O que ela precisa é detalhar a “economia da oportunidade” e se afastar da “Bidenomics” — diz o cientista político David Schultz, da Universidade Hamline, de Minnesota.

Assessores da Casa Branca reclamam nos corredores da “falta de ousadia” da vice. Mas pesquisas mostram que a maioria dos americanos não associa os anos Biden à inegável recuperação econômica do país. Em agosto, o Gallup mostrou que só 31% dos eleitores detectavam melhora. Por isso, a “campanha de esclarecimento” inclui registros de Biden conversando com cidadãos que se beneficiaram da “Bidenomics”. Os vídeos aparecerão nas redes sociais da Presidência.

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Os republicanos, por sua vez, dizem estar vigilantes para eventual uso da máquina federal pró-Kamala. Mas o núcleo trumpista é cético quanto a efeito positivo da iniciativa de um presidente com aprovação na casa dos 40%. De forma reservada, uma pessoa da campanha concedeu que o esforço de Biden pode sim diminuir sua rejeição, mas é improvável que isso se traduza em votos para a vice a essa altura da disputa. Obama, que goza de prestígio entre os independentes, os preocupa mais.

— Biden pode ajudar na mobilização dos democratas, mas precisa coordenar suas viagens com a campanha. A defesa de seu legado no finzinho da disputa deveria ter parâmetros definidos por Kamala — diz o cientista político Jonathan K. Hanson, da Universidade de Michigan, que trabalhou em campanhas dos dois partidos.

Há outro temor no Partido Democrata. O périplo de Biden ameaça minar o esforço da vice de se apresentar, ao mesmo tempo, como governo e novidade. Com quase 60% dos eleitores defendendo mudança, Kamala precisa se distanciar do político que, há quatro anos, a escolheu como vice. E Biden sabe que seu xadrez político só será mesmo celebrado se fizer a sucessora.

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